by Niels Anner
A maior nação de balsas da Europa, a Noruega, já está colhendo os benefícios da substituição de uma frota a diesel envelhecida por balsas elétricas e híbridas. O resto do mundo vai embarcar? Um novo estudo mostra o caso da Itália, Alemanha, Grécia e Reino Unido
De acordo com um novo estudo, há um enorme potencial no uso de balsas elétricas e híbridas na Europa, onde cerca de 800.000 toneladas de emissões de dióxido de carbono (CO2) podem ser drasticamente reduzidas, investindo na energia em terra, hibridização, e balsas totalmente elétricas para determinadas rotas.
As balsas desempenham um papel vital no transporte, mas ao mesmo tempo têm um impacto negativo no ambiente, causando emissões nocivas e poluição sonora. Com a eletrificação e a hibridização no entanto, as balsas podem se tornar parte das soluções para descarbonizar o transporte marítimo, que causa cerca de 3% das emissões globais de gases de efeito estufa.
O estudo, “Decarbonizing maritime transport: A study on the Electrification of the European Ferry Fleet” (em tradução livre para o português, “Descarbonização do transporte marítimo: Um estudo sobre a eletrificação da frota europeia de balsas”), identifica o Reino Unido, a Alemanha, a Itália e a Grécia como altamente dependentes do transporte por balsas, respondendo por 35% das emissões europeias de balsas. Mas isso pode mudar. E o que vale para esses quatro países vale também para o resto das nações marítimas do mundo.
A Noruega causou um adicional de 17% de emissões no passado, mas desde então vem fazendo um rápido progresso na descarbonização de seus mares com mais de 70 balsas totalmente elétricas ou híbridas – e ainda mais em construção.
Apenas seis anos depois de colocar Ampere, a primeira balsa para carros totalmente elétrica do mundo em operação, a Noruega se tornou pioneira no uso de balsas mais ecológicas. E a Siemens Energy tem sido uma peça-chave, diz Bjørn Einar Brath, diretor na Siemens Energy na Noruega, na criação deste “conto de balsas” nos fiordes.
“Ganhamos muita experiência”, diz Brath, “fornecendo baterias, eletrônica de potência e sistemas elétricos para muitas embarcações. As oportunidades que as tecnologias de balsa verde trazem estão prontas para uso – não há necessidade de esperar para ver.”
A empresa se beneficiou diretamente de sua experiência e sucesso na Noruega, onde forneceu baterias e todos os sistemas de controle para o Color Hybrid, o maior navio híbrido plug-in do mundo, navegando entre a Noruega e a Suécia.
E eles desempenharam o papel principal no fornecimento da solução de armazenamento elétrico e sistema de gerenciamento de energia para a maior balsa totalmente elétrica, operada pela empresa de balsas Bastø Fosen no movimentado fiorde de Oslo. “As balsas elétricas”, diz o CEO Øyvind Lund, “significam grandes reduções nas emissões locais, menos ruído e operações mais confiáveis”.
O estudo, realizado pela organização ambiental norueguesa Bellona Foundation, em cooperação com a Siemens Energy, destaca áreas para as maiores oportunidades de redução na Europa. Por exemplo, o porto de Pireu, sozinho, é responsável por 1/3 das emissões da Grécia no cais. Na Alemanha, apenas 15 das 105 balsas são embarcações maiores, mas respondem por 60% das emissões.
“A necessidade de ação é particularmente grande no sul da Europa, com balsas na Itália emitindo de longe as maiores emissões de dióxido de carbono na Europa, enquanto a Grécia é a número dois”, explica Paolo Menotti, vice-presidente para o Sudoeste Europeu da Siemens Energy. Menotti traça três soluções a serem implementadas em paralelo: reequipamento da frota existente, encomenda de novas balsas e eletrificação da infraestrutura portuária.
“Se as balsas nos portos puderem ser conectadas à rede elétrica em vez de usar geradores a diesel para manter os sistemas funcionando, isso não só reduz consideravelmente as emissões, como também leva a uma melhor qualidade do ar e tranquilidade para a população”, diz Menotti, referindo-se aos cálculos do estudo de que as balsas emitem uma média de 26% das emissões totais enquanto estão nos portos – “Na Grécia, chega a 37%”.
Muitas balsas europeias também são bastante antigas, portanto, nos próximos anos, os navios precisarão ser substituídos. Menotti destaca, “a hora de agir é agora para apresentar soluções para um sistema de transporte marítimo com zero emissões”.
De acordo com o relatório, “combinando a geração de energia em terra, a eletrificação total de rotas mais curtas e a hibridização de todas as rotas, o potencial de redução de emissões é estimado em 800.000 toneladas de CO2 para os quatro países analisados”.
Isso significa que existem soluções flexíveis para diferentes viagens e, dependendo da extensão da rota, diferentes tecnologias podem ser consideradas. Por exemplo, embarcações totalmente elétricas podem substituir as mais antigas em viagens de até uma hora. Para rotas mais longas, as soluções híbridas são mais adequadas, permitindo a operação elétrica durante a primeira hora de viagem e no porto.
No futuro, os motores híbridos também poderão funcionar com e-combustíveis verdes, como metanol ou amônia, aumentando ainda mais a descarbonização. “A eletrificação híbrida”, demonstra o estudo, “não causa automaticamente o aprisionamento do combustível fóssil. Para rotas mais longas, a hibridização provavelmente será necessária e eficiente com combustíveis de emissão zero, proporcionando operações estáveis para células de combustível, redução de pico ou outras aplicações”.
Como fornecedora de soluções globais flexíveis, Paolo Menotti explica que a Siemens Energy trabalha em estreita colaboração com os operadores de balsas para combinar a tecnologia com as metas de descarbonização de curto e longo prazos. “Como já mostramos antes na Noruega, podemos acomodar nossos sistemas às necessidades de nossos clientes.”
As soluções disponíveis para a Europa e o modelo da Noruega sugerem um potencial inexplorado para o uso de balsas elétricas no resto do mundo. De acordo com a associação de navegação Interferry, o setor de balsas é “semelhante em tamanho ao setor de aviação comercial”, composto por 15.400 navios que transportaram cerca de 4,27 bilhões de passageiros, e 373 milhões de veículos em 2019 (as companhias aéreas do mundo transportaram 4,5 bilhões de passageiros naquele ano). Em outras palavras, o potencial de redução das emissões globais é enorme.
Os operadores de balsas em todo o mundo já estão aproveitando a eletrificação. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Washing State Ferries está fazendo a transição de três balsas da classe Jumbo Mark II, que consomem cinco milhões de galões de diesel por ano, para embarcações de emissão quase zero com sistemas de propulsão elétrica (EPS). A KiwiRail na Nova Zelândia também usará EPS para adicionar duas novas balsas ecológicas à sua frota. E a Kochi Metro Rail Ltd., na Índia, usará a primeira frota de 23 e-Ferries do país como parte de seu compromisso com a descarbonização e a sustentabilidade.
Existem vários fatores industriais que tornam a Noruega um ambiente ideal para a descarbonização do transporte marítimo, explica Bjørn Einar Brath. No entanto, o desenvolvimento só se acelerou quando o governo priorizou a transformação do setor e exigiu que as empresas cumprissem as metas climáticas. Nesse ponto, a tecnologia verde tornou-se uma condição para concursos públicos, “a mudança na política foi um verdadeiro divisor de águas”, diz Brath.
O financiamento de agências governamentais permite os investimentos necessários para renovar e descarbonizar as balsas, o que, por sua vez, permite que estaleiros e fornecedores, incluindo a Siemens Energy, gerem muito conhecimento e empregos locais.
Para os operadores, a mudança traz projetos de embarcações mais eficientes em termos energéticos, e uma redução significativa no consumo de combustível, enquanto, ao mesmo tempo, relata o estudo, “os custos de manutenção geralmente são menores, com intervalos de manutenção e vida útil esperada de motores e componentes mais longa.”
“O investimento inicial para tecnologia elétrica e híbrida”, diz Menotti, “pode parecer alto, mas não quando analisamos os custos do ciclo de vida completo”.
Os fatores que beneficiam tanto as metas de descarbonização, quanto as economias locais são, naturalmente, vistos com grande interesse em outros países. Os governos das quatro nações analisadas no estudo já fazem uso de diferentes opções legislativas e financiamentos que poderiam ser modelados em outros lugares para promover a eletrificação do transporte marítimo. Por exemplo, o Reino Unido estabeleceu uma meta de reduzir as emissões de balsas para zero até 2050.
E nos quatro países vários programas de financiamento nacionais e da UE visam patrocinar e, assim, acelerar projetos com balsas e investimento na eletrificação dos portos. “As oportunidades na Europa são ótimas”, diz Brath, “mas também podemos ver um grande interesse nos EUA, onde a Siemens Energy já entregou componentes para balsas”
Além disso, à medida que as tecnologias avançam, elas também podem ser aplicadas em embarcações ainda maiores. Assim, com os incentivos políticos e econômicos certos, o “conto de balsas” da Noruega também poderá em breve ser contado em outros lugares.
31 de Agosto, 2022
Niels Anner é um jornalista independente baseado em Copenhague, que escreve sobre negócios, ciência, tecnologia e sociedade no norte da Europa.