Do carvão ao gás, do gás ao hidrogênio

A história industrial desta região no leste da Alemanha é impensável sem o carvão. O carvão das minas de lignito a céu aberto ao sul de Leipzig contribuiu para o crescimento industrial da cidade a partir de meados do século XIX. Até recentemente, 60% da energia térmica para os 600.000 cidadãos de Leipzig e suas indústrias vinha de usinas a carvão.  

Mas agora, enquanto a Alemanha e a Europa estão no meio de uma transição energética do carvão para as fontes renováveis, a cidade está rompendo com o passado e pavimentando caminho para o futuro. Em outubro de 2023, a Stadtwerke Leipzig, a concessionária de serviços públicos da cidade, inaugurou uma usina de cogeração (CHP) a gás que estabelece um novo padrão – não apenas com uma utilização de energia de quase 94%, produzindo 125 MW de energia elétrica e 163 MW de energia térmica. Suas duas turbinas a gás SGT-800 da Siemens Energy, cada uma com capacidade de 62 MW, estão prontas para H2. Embora atualmente sejam alimentadas com gás natural, elas são capazes de usar até 30% de hidrogênio. Com uma conversão dos queimadores das turbinas e alguns auxiliares no futuro, elas podem ser atualizadas para operar com 100% de hidrogênio. 

A ideia de ter usinas a gás altamente flexíveis e prontas para hidrogênio - que atingem a capacidade total de geração em apenas 15 minutos - servindo como a espinha dorsal de uma rede elétrica mais volátil está alinhada com a estratégia dos legisladores alemães e europeus.  

Em 2022, a UE adotou um plano para produzir e importar 10 milhões de toneladas de hidrogênio renovável até 2030. Até 2050, espera-se que o hidrogênio renovável cubra cerca de 10% das necessidades energéticas da UE, descarbonizando significativamente os processos industriais intensivos em energia e o setor de transportes. 

Com várias instalações de produção de hidrogênio em construção, a economia do hidrogênio está ganhando impulso, mas ainda está aquém das expectativas da indústria. Assim, do ponto de vista comercial, o gás natural continua sendo a escolha certa por enquanto, como explica Karsten Rogall. Então, quando o hidrogênio verde ou pelo menos de baixo carbono "superará" o gás natural? 

"É uma questão de paridade de preços entre o gás natural mais o preço do CO2 e o hidrogênio", diz Thomas Neuenhahn. "O aumento gradual no preço do CO2 e a intensificação da produção de hidrogênio levarão à paridade de preços entre o gás natural mais o preço do CO2 e o hidrogênio verde por volta de 2040," acrescenta Neuenhahn, citando uma análise recente. De acordo com a mesma análise, a paridade de preços com hidrogênio de baixo carbono ou "azul" (com captura e armazenamento de carbono) será alcançada ainda mais cedo. 

Em sua opinião, o desenvolvimento e o uso de tecnologias H2 podem posicionar a Alemanha e a UE como pioneiras em um setor crucial da futura indústria de energia e criar vantagens econômicas e geopolíticas. No entanto, uma variedade de peças do quebra-cabeça precisa estar no lugar para que isso aconteça. Por exemplo, uma estratégia europeia coordenada de H2 que promova a cooperação transfronteiriça, harmonize os regulamentos e apoie o desenvolvimento de uma indústria europeia de H2 competitiva, diz Rogall. 

Além disso, são necessários aumentos nos investimentos públicos e privados em tecnologias de H2, incluindo eletrólise, armazenamento e transporte, bem como financiamento significativo para o desenvolvimento de uma infraestrutura de H2, como gasodutos, plantas de eletrólise e estações de reabastecimento. 

E, por último, mas não menos importante, Rogall destaca a necessidade de cooperação internacional: "Precisamos trabalhar juntos para desenvolver padrões globais para a produção, qualidade e segurança do H2 e promover parcerias internacionais para o comércio de H2 e desenvolvimento de tecnologia com países como Marrocos, Canadá e Chile. Ao tomar tais medidas, os formuladores de políticas podem criar um ambiente favorável e garantir que isso contribua para um futuro mais sustentável, seguro e próspero."