O que será necessário para descarbonizar a cadeia de suprimentos de redes de energia?

Vinte anos atrás, quando comecei a abordar mudanças climáticas, a conscientização e a ação eram modestas entre indústrias e empresas. Os governos assumiram a liderança com políticas e medidas, enquanto outros o seguiram. Mas essa cena mudou. Esse cenário mudou, as iniciativas governamentais ainda são vitais, mas lentas. Hoje em dia, as iniciativas de baixo para cima dos empreendedores são a vitrine de como acelerar a ação climática e desbloquear novas oportunidades para atingir o net zero.

Um excelente exemplo é a Carta de Intenções recentemente assinada pela Siemens Energy e pela operadora de rede europeia TenneT. Ambas as empresas são elos cruciais na rede elétrica. E, com a expectativa de duplicação da rede global nos próximos quinze anos, ambas as companhias estão enfrentando um enorme crescimento de atividades – a TenneT principalmente na Holanda e na Alemanha, e a Siemens Energy em todo o mundo. 

Obviamente, as empresas têm a obrigação de cumprir a legislação sobre mudanças climáticas, mas a nova Carta de Intenção foi projetada para levá-las muito além disso. "A transição energética não significa apenas mudanças na produção e transporte de eletricidade", diz Tim Meyerjürgens, diretor de operações da TenneT, "também significa que temos que adotar uma abordagem de conservação de recursos para as matérias-primas do nosso mundo".

Alavancando suas posições nos mercados, a Siemens Energy e a TenneT pretendem descarbonizar sua cadeia de suprimentos para tecnologia de rede, incluindo materiais básicos como cobre, aço e alumínio. O primeiro marco estabelecido na carta será uma redução da pegada de carbono de 30% até 2030 – um sinal claro e firme para outras indústrias reduzirem as emissões incorporadas em seus produtos.

"Embora a tecnologia de rede em si não emita CO2 durante o transporte de energia", diz Tim Holt, membro do Conselho Executivo e Diretor de Trabalho da Siemens Energy, "as emissões ainda são geradas na cadeia de suprimentos e nas matérias-primas usadas nesses produtos. Por meio deste acordo, pretendemos reduzir as chamadas emissões de Escopo 3."

Holt e Meyerjürgens falaram na assinatura da carta, que ocorreu na Fábrica de Transformadores Siemens Energy em Nuremberg, Alemanha. Somente na Alemanha, a TenneT planeja adicionar cerca de 12.000 quilômetros de expansão da rede, 73 novas subestações e 16 modernizações de subestações até 2045. "Estamos falando de imensas quantidades de aço, cobre e outras matérias-primas de que precisamos para a transição energética e a expansão da rede elétrica", disse Meyerjürgens.

A Fábrica de Transformadores em Nuremberg fornece uma analogia de como as soluções de descarbonização se desenvolveram ao longo dos anos. Os primeiros passos foram para a Siemens Energy reduzir as emissões de Escopo 1 e 2 de sua fábrica, eletrificando as operações e usando energia renovável. Devido aos esforços de redução, as emissões desse tipo estão próximas a zero, já as restantes - de escopo 3 - vem da cadeia de suprimentos e das matérias-primas usadas na fabricação de transformadores de potência.

Para começar a descarbonizar essas matérias-primas, a Siemens Energy  e a TenneT identificaram dez ações nos próximos cinco anos. Embora todos os componentes da rede sejam considerados, o foco começará com os transformadores, o que Meyerjürgens chama de "o coração de cada subestação". Por causa da matéria-prima usada em sua fabricação, os transformadores têm um grande impacto na cadeia de suprimentos de rede.

Por exemplo, a fábrica de última geração em Nuremberg fornece cerca de 70 a 75 unidades por ano, tanto para operações onshore quanto offshore. Somente um grande transformador de energia, do tamanho de uma pequena casa, pesa cerca de 300 a 400 toneladas, incluindo 60 toneladas de cobre. 

"Um marco dessa parceria é a mudança para o uso de cobre 100% reciclado para todos os transformadores que produzimos para a TenneT." diz Tim Holt, "Começando agora e mantendo dessa maneira até pelo menos 2030, esta iniciativa – juntamente com outros componentes – economizará cerca de 6.500 toneladas de emissões de CO2 até o final da década."

Embora a carta vise metas para 2030, as partes já estão olhando além dessa data – porque quando se trata de planejamento de rede, uma média de 30 a 40 anos é bastante comum. "Como operador de rede, temos uma visão de longo prazo", diz Meyerjürgens. "Olhamos para o que é necessário para ser neutro em termos climáticos até 2050 e retrocedemos a partir daí."

"Investir em inovação está em nosso DNA", acrescenta Holt. "É por isso que estamos no ramo de energia há mais de 150 anos."

Finalmente, Holt e Meyerjürgens concordam que terão que desenvolver um modelo de negócios circular para materiais de base como cobre e aço até 2050. "A longo prazo, pretendemos atingir a mesma faixa de preços, pois esta é a única maneira de garantir a aceitação necessária da transição energética", diz Meyerjürgens.

Holt e Meyerjürgens também estão convencidos de que suas empresas podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento desses mercados verdes de cobre, aço e outros materiais básicos. A onda verde na cadeia de suprimentos também precisará de apoio governamental? "Não precisamos esperar que os governos tornem a cadeia de suprimentos mais verde", diz Holt. "Com parceiros fortes, podemos começar a avançar em direção a uma economia verdadeiramente circular hoje. Nossa parceria estratégica com a TenneT é um passo significativo para combater as mudanças climáticas, demonstrando como as iniciativas corporativas podem impulsionar um progresso significativo na redução das emissões de carbono."  

Sobre o autor: O físico e autor holandês Rolf de Vos relata os desenvolvimentos globais em energia e meio ambiente há mais de 30 anos. Entre os primeiros a cobrir mudanças climáticas e sustentabilidade, de Vos também foi consultor interino de organizações como o Ministério de Assuntos Econômicos e Política Climática da Holanda.

Créditos combinados de imagem e vídeo: Anna Schroll, Siemens Energy